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Boca limpa não garante saúde bucal

Atualizado: 12 de abr.

Isto ocorre porque a maioria das doenças bucais tem causas multifatoriais que extrapolam os limites da cavidade oral.


A cárie é uma doença multifatorial que depende da higiene (remoção da placa / biofilme / bactérias), dieta, frequência e eficácia da saliva. Grande parte das doenças que acometem a gengiva e osso de suporte do dente, pode ser evitada ou controlada com a correta higiene, porém, a retração gengival, por exemplo, pode ou não ser controlada com uma correta higiene. Quando a causa se dá pela presença de bactérias, placa e tártaro, as limpezas feitas pelo paciente em casa e a profilaxia periódica realizada no dentista funcionam. No entanto, a retração gengival causada por sobrecarga de força nos dentes, por apertamento dental (denominado de bruxismo em vigília) ou posições dentárias inadequadas que causam interferências nas relações mordida, não pode ser controlada apenas por medidas de higiene.


E por que apertamos os dentes? Primeiro porque não temos conhecimento de que isso não é o correto, portanto não nos policiamos para evitar. Fisiologicamente, só devemos encostar os dentes ao deglutir, e eventualmente ao mastigar e falar. Isto equivale a menos 20 minutos por dia. Segundo, existem situações, comportamentos, distúrbios e estilos de vida que predispõem a este hábito. A ansiedade, o stress, o medo, o estado de foco, atenção e uso da força corporal, contraem a musculatura do nosso corpo, bem como da nossa face. Quando esse excesso de força se soma a uma gengiva de constituição mais delgada, a retração ocorre. Além da retração, desgastes em formato discóide ou de cunha surgem nos dentes (lesões não cariosas).

O bruxismo noturno (ranger os dentes) é outro exemplo de problema bucal que ocorre por fatores que extrapolam a cavidade oral. É o cérebro, o sistema nervoso central (SNC), que desencadeia o bruxismo, também relacionado a ansiedade, stress, uso de medicações ou até mesmo em consequência de outros distúrbios, como apneia obstrutiva do sono (AOS) e distúrbio do refluxo gastroesofágico (DRGE). A etiologia do bruxismo não é bucal, mas muitas das suas sequelas acometem a boca.


Sempre que ácidos de origem intrínseca (portadores de distúrbios gástricos,  bulímicos, gestantes, pós bariátricos e atletas) ou extrínseca (dieta ácida) entram na boca, e principalmente em pacientes com alterações salivares, provocam o enfraquecimento dos dentes (corrosão) e até possíveis queimaduras nos tecidos moles. Dentes corroídos por ácidos, portanto porosos e enfraquecidos, sofrem desgastes ainda mais rapidamente em pessoas com bruxismo. A porosidade dentária provocada pela corrosão é a principal causa da hipersensibilidade dentinária, tão desconfortável e impactante na qualidade de vida quanto incidente atualmente. A hipersensibilidade, os desgastes dentários, as lesões não cariosas, a retração gengival e o apertamento provocam dano pulpar (nervo do dente), a tal ponto de causarem necrose nesta polpa, que vai determinar a necessidade de tratamento de canal. (E note: precisar de tratamento de canal sem ter cárie!!!)

Os excessos de força também podem provocar trincas, fraturas e consequentemente perda de dentes, além de disfunção temporomandibular (DTM).


Podemos ver, portanto, que diversos fatores “não bucais” são responsáveis por doenças bucais. A pessoa pode ter boca limpa e ainda assim, ter a boca doente.


Hábitos, doenças e estilo de vida determinam a saúde bucal e longevidade dos dentes, restaurações, próteses, implantes. Cabe ressaltar que nenhum material utilizado na odontologia é tão bom quanto o dente natural, portanto, não vai suportar o que o dente não conseguiu suportar.

Que hábitos são esses? Alguns exemplos são dieta ácida, vegana, esportiva, cigarros eletrônicos, drogas ilícitas, etc.

E quanto ao estilo de vida? Atletas amadores e profissionais, portadores de transtornos de ansiedade, bulimia, distúrbios gástricos, distúrbios do sono, pós-bariátricos, gestantes, portadores de doenças e síndromes.

A saliva, que possui papel importante para evitar cárie e corrosão dentária, também sofre influência dos hábitos, estilo de vida, doenças e medicações.


Portanto, para a condição de saúde bucal, higiene, atenção e procedimentos voltados à boca, somente, não são suficientes. Cada vez mais precisamos da colaboração de profissionais da saúde das mais variadas áreas (médicos, psiquiatras, psicólogos, terapeutas, nutrólogos, fisioterapeutas, etc.) atuando em sinergia para melhor diagnóstico, prevenção, educação, mudança ou adequação de hábitos e tratamento do paciente em sua área, para que então, resolvidas ou minimizadas as causas extrínsecas, o dentista possa tratar causas intrínsecas, sequelas, promover saúde e garantir a longevidade e equilíbrio da boca, dentes e procedimentos odontológicos realizados.



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